18.5.06
7.5.06
Adeus - Para Sempre

Já gastámos as palavras pela rua,
meu amor,e o que nos ficou
não chega para afastar o frio
de quatro paredes.
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Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
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Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto
para dar um ao outro;
era como se todas as coisas
fossem minhas: quanto mais te dava
mais tinha para te dar.
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Às vezes tu dizias:
os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
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Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
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E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza de que
todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
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Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
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Adeus.
Eugénio de Andrade